Localização: nordeste do continente africano. É o segundo país mais populoso da África.
O Egito é o primeiro destino turístico do mundo. A grandiosidade das obras realizadas pela civilização egípcia assombrou a conquistadores como Alexandre Magno, Júlio César e Napoleão Bonaparte. O mistério da única das maravilhas do mundo antigo ainda em pé, as Pirâmides e a Esfinge, já desgastadas pelo rigor de 3000 anos de exposição ao impiedoso vento e areia do Deserto do Sahara, continua a fascinar arqueólogos, viajantes e aventureiros. Quando Cristo nasceu as Pirâmides já eram antigas!
É claro, que eu e todos que compartiam comigo essa aventura nos assombramos também. Estávamos diante de monumentos até hoje enigmáticos. Os milhões de pedras usadas na construção das pirâmides; seu tamanho (duas toneladas cada pedra) e a precisão com que foram ajustadas tornam a viagem mais misteriosa e impressionante. Quase tudo que tínhamos diante de nós datava de antes de cristo. A paixão de nosso guia quando falava da história de seu povo, nos remontava aos dias do nascimento de Jesus e da fuga da Sagrada Família para o Egito para escapar de Herodes. O lugar aonde a Sagrada Família se refugiou ainda esta preservado no bairro Copta e na Sinagoga Bem Ezra se encontram as palhas onde Moisés foi escondido.
Viajava sozinho, e a chegada ao aeroporto internacional do Cairo deixou-me um pouco apreensivo. Atento e tratando de localizar meu recepcionista, fui aos poucos me adaptando ao mundo das burcas e dos turbantes. Em poucos minutos fiz meu visto de entrada e partimos em nossa van, por um trânsito caótico e alucinante, em direção ao centro da cidade. Por decisão da companhia, nos deram um up grade e nosso destino era o cinco estrelas, Ramses Hilton, em pleno coração da cidade e a dois quarteirões do Nilo.
É bom ressaltar que para evitar um choque no Cairo, primeiro você tem que ter muita sorte, acrescida de excelentes freios e uma buzina estridente. Raramente deparamos com sinaleiras. Quem buzina mais forte e avança primeiro tem a preferência. Nossa van esquivava vendedores ambulantes com suas bicicletas, carregando cestas de pão na cabeça. Eram verdadeiros equilibristas. Outras vezes, um grupo de mulheres, todas de preto, que com leves movimentos de cintura, esgueiravam-se da van. Era um sobressalto atrás de outro. Não se respeitam regras. Tudo isto apenas acompanhado de algumas xingadas e nada mais agressivo. É um jogo. É uma forma de vida que eles administram bem. Vence o que for mais afoito. Conclusão: ao chegar ao majestoso Hotel, eu já havia desistido de alugar meu próprio carro. Seria um desgaste e um estresse desnecessário. Nosso guia comentou da quantidade de pessoas mortas em acidentes de trânsito.
Como é muito complicado viajar para esses destinos a não ser em excursões, tive a sorte de compartir com um grupo que enriqueceu minha viagem. Duas jornalistas, um economista, um casal de empresários, todos paulistas e dois mexicanos: ela socióloga e ele professor de arquitetura da Universidade do México, que com 23 anos agarrou sua mochila e viajou ao redor do mundo por sete meses. Um bom grupo faz a diferença em uma viagem, e como faz. Hórus, o Deus protetor da rica mitologia egípcia deve ter ajudado para que as coisas assim acontecessem.
Era chegada a hora de desvendar os mistérios daquela cidade de trânsito desordenado e frenético, mas misteriosa, alegre e vibrante. Minha primeira atitude foi comunicar-me com quem seria meu anfitrião na capital egípcia: o estudante de medicina palestino Saleh Thalgi, sobrinho de um querido amigo. Combinamos que o esperaria no hotel e sairíamos a jantar. Fomos num dos restaurantes mais tradicionais de cidade - o Kadura -, cuja especialidade é frutos do mar. Ele escolheu o peixe fresco que íamos comer e eu o acompanhei em todas suas escolhas de molhos e raridades da gastronomia árabe (patês de gergelin, sésamo e berinjela). Minha intenção durante toda a viagem foi sempre comer as especialidades da região. Saleh, foi meu companheiro nos três dias que antecederam minha excursão em barco pelo Vale do Nilo e o Lago Nasser. Encontrávamo-nos à noite, pois ele estava em pleno curso letivo. Educado e muito esperto, sempre que eu comentava sobre a possibilidade de algum programa respondia: “inshalá, doutor”! A religião estava sempre presente em seu dia a dia.
Mais do que visitar os sítios imperdíveis desta cidade, o Museu de Arte Egípcio, com mais de cem mil peças do Antigo Egito e a sala das múmias, onde está o mais importante faraó, Ramsés II; a Mesquita de Alabastro na Cidadela de Salatino; o Bairro Copta, com sua história milenar do início da religião cristã ou o labiríntico bazar (souk) Khan el Khalili, que se mantém inalterado desde o século XIV, vasculhamos a vida noturna da cidade com ele e alguns colegas palestinos.
O Cairo não dorme. Às 23 horas é possível ver os cairotas comprando todo tipo de produtos nos mercados. O bulício é constante e a solidão parece não ter lugar nessas ruas. Nos cafés os homens conversam, fumam a shisha (narguilé) e jogam dominó, olhando para a rua. Estava de cara com o mundo árabe, onde a maioria das mulheres usa o véu islâmico, o comércio é a mola propulsora de tudo e se reza cinco vezes ao dia.
Após esse primeiro contato com o mundo islâmico, fomos navegar pelo Vale do Nilo, à bordo do Al Jamila. É como viajar ao início da civilização. Nosso barco era um dos trezentos que todas as semanas fazem o trajeto de Sul a Norte, desde Assuam a Luxor. Verdadeiros hotéis flutuantes, aonde se pode desfrutar, desde a coberta, do dia a dia das povoações ribeirinhas. Numa estreita faixa de vegetação crescem palmeiras repletas de tâmaras, onde crianças brincam; mulheres lavam roupa; homens lavam camelos e depois o Deserto infinito.
Visitamos os imponentes e majestosos templos de Luxor (antiga Tebas) e Karnak, em Assuam acompanhamos o por do sol navegando nas tradicionais falucas e fomos conhecer uma autêntica vila Núbia, convivendo alguns momentos com esse povo tão hospitaleiro.
Retornando das excursões em barco, que se estenderam pelo lago Nasser, para visitar um dos monumentos mais grandiosos que o homem já fez, o Templo de Abu Simbel, dedicado a Ramsés II, e princesa núbia Nefertari, a mais amada de suas cem esposas, quase na fronteira com o Sudão, seguiria adiante por minha conta e risco. Confesso que já estava com saudades do meu companheiro Sahle, que tinha retornado às seus estudos na faculdade. Aproveitei para fazer o que mais gosto: exercitar meu instinto de sobrevivência. Era um baita de um desafio enfrentar uma metrópole de quase 20 milhões de habitantes, sem falar o idioma, sabendo dos riscos que corria travestido de Indiana Jones e com minha câmera a tiracolo. Acertei-me com um taxista chamado Ibrahim, que falava razoavelmente o inglês e me pareceu confiável. Eu tinha instruções fidedignas de preços e pesquei seu modo de negociar. Aprendi a pechinchar para não pagar o dobro, como fazem com todos os turistas. Comprei no Hotel um minibook (“Arab for you”) e confiei no Ibrahim. Quando viajamos sozinhos temos que fazer um diagnóstico correto da situação e seguir nossa intuição. Ele tinha um sorriso simpático, que me tranqüilizou, e, junto com ele, iniciei a desvendar o Cairo Islâmico: o bairro mais pobre, mas o mais interessante e uma das cidades islâmicas mais velhas do mundo.
A religião impregna o cotidiano dos povos islâmicos. Todos os dias escuta-se a chamada do muazzin, 5 vezes ao dia, o muçulmano que chama para a reza.
Retornando ao desafio de confiar no Ibraim e enfrentar a cidade, pedi que me levasse até as pirâmides que eu necessitava tirar novas fotos com mais calma. Ele tinha seu ponto em frente ao Hotel L’Esphynge, que se localiza em Gize e foi onde nos hospedamos ao retornar dos cruzeiros. Tomávamos o café da manhã num bonito jardim que nos proporcionava uma excelente vista das Pirâmides. É uma excelente localização somente para visitar as Pirâmides, mas está a 40 minutos dos outros lugares históricos. Não vale a pena, pois se perde um tempo precioso no trânsito. Creio que a melhor localização para estar no Cairo é nos hotéis localizados às margens do Nilo.
Combinamos que ele me levaria até a Mesquita de Ibn Tulum, que data do século IX e é uma das maiores do mundo, onde iniciaria meu périplo pelo bairro islâmico e depois nos encontraríamos no Hotel Sofitel Nile, ao cair da noite, para retornar ao hotel.
Continuei meu caminho, passando pelo Museu Gayer-Anderson e fui por ruelas de terra, entre verdadeiras obras primas da arquitetura árabe, em direção da Mesquita do Sultão Hassan, localizada ao lado de um dos portões de acesso ao Bazar Khan el Khalili, onde me perdi em suas vielas. Ali se vende de tudo: narguiles, tapetes, jóias, iguarias e todo tipo de souvenirs.
Cheguei ao luxuoso Hotel Sofitel, às margens do Nilo ao cair da tarde e me dirigi à varanda do bar El Kabibys. Aproveite para relaxar, depois de uma jornada intensa,onde sorvendo uma cerveja Sakhara e apreciando pela derradeira vez o por do sol sobre o rio, com seus barcos iluminados. Em um ambiente de mil e uma noites, escutando as músicas dos barcos que singravam pelo caudaloso rio e escutando a misteriosa chamada para a última oração do mouazin, encerrava minha aventura pelo mundo muçulmano, sem antes de partir, homenagear aquele rio mítico, que tanto fascínio me causou.
Corri riscos sim, na fronteira com o Sudão, zona conflagrada, onde um grupo de turistas e seus guias foram seqüestrados por bandidos do deserto, meses atrás. Vivi momentos de muita tensão quando eu e meu companheiro estivemos detidos pelo exército egípcio em Port Said, por fotografar um super-petroleiro cruzando o Canal de Suez (considerada área de segurança). Resumo o episódio, porque sempre me acontecem coisas inusitadas em todas minhas viagens. Estivemos detidos em um cubículo escuro, durante quatro horas e a única luz era a dos celulares iluminando nossos passaportes. Imaginei que seria uma pressão psicológica como estamos acostumados a ver nas cenas de interrogatório. Cutuquei por baixo da mesa meu companheiro e falando em português perguntei se não seria melhor oferecermos algum dinheiro e tentar sair daquela situação tão angustiante o antes possível. Meu companheiro mostrou-se calmo e disse: “vai sair tudo bem!”. Havia um sério agravante para nos complicar mais. Saleh era palestino e o dono e chofer do carro em que viajávamos não estava habilitado para fazer serviços turísticos. Era um prato cheio para sermos suspeitos de terroristas. Completadas as quatro horas de cativeiro e já noite escura, eis que, a tão desejada iluminação surgiu. O comandante esboçou um sorriso, pediu que eu deletasse as fotos do Canal e nos liberou. Era nada mais que um simples apagão de terceiro mundo, mas que muita pressão nos colocou. Não deixou de ser algo tragicômico, que depois serviria como brincadeira, contando a muitos companheiros de viagem por esse mundo afora.
E, finalmente, para completar, corri riscos também, ao sair a perambular pela cidade mais populosa do continente africano sozinho, com um chapéu de aventureiro ou arqueólogo, na zona mais tradicional, onde os preceitos religiosos são um pouco mais exagerados. Todo o acontecido, não diminuiu o fascínio e o encantamento de meu convívio com um povo simpático, amável, com uma história invejável e com uma cultura tão diferente da nossa.
Hoje, o Cairo moderno convive pacificamente com mais de 2000 anos de cultura islâmica, copta, cristã e judaica. Foi uma jornada através da história! SHUKRAN HABIBIS!
Português | Árabe |
Bom dia | Sabaah il kahir |
Boa tarde | Masa il kahir |
Bem-vindo | Marhaban |
Adeus | Ma is salaama |
Obrigado | Shukran |
Alá esteja contigo | As salam alaykun |
Alá esteja contigo também | alaykun as salam |
Amigo | Habibi |
Gorgeta | Baksheesh |
Bazar | Souk |
Sim | Aiwa |
Não | La |
Quem? | Meen? |
Quando? | Mata? |
Como? | Kaif |
Sábado | Al sabat |
Domingo | Al ahal |
Pão | Khubz |
Leite | Haleeb |
Café da manhã | Iftar |
Almoço | Gadaa |
Janta | Asha |
Café | Qahwa |
Com licença | Afuan |
Desculpe | Aasif |