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Delta do Okawango - Botswana

Dados gerais

  • Capital: Gabarone, 300.000 hab.
  • Moeda: Pula (significa chuva) 1 US DOLAR = 7,7 Pulas
  • Língua oficial: Inglês e setswana
  • Religião: 60% protestantes, 23% religiões indígenas
  • Saúde: 1 de cada 3 habitantes estão infectados pelo HIV
  • Mortalidade infantil: 45 por 1000 habitantes
  • Expectativa de vida: 50 anos
  • Economia: exploração de diamantes
  • Curiosidades: estabilidade política desde sua independência em 1966 (democracia). Lá, cerca de 4000 indígenas falam a lingua Gulp (Xôo é considerada a mais desafiante língua do mundo). Lá, também se encontram um dos povos mais antigos do mundo – os Bushman ou San.

Delta do Okawango

Diário de Bordo – Parte I

Ontem chegamos cansados da escalada das Dunas Vermelhas e de uma extensa caminhada pelo Vale da Morte. O meu companheiro estava exausto e foi direto para a ducha. Eu fui provar uma cerveja da Namíbia e iniciei conversação com a única pessoa que me acompanhava no bar. Contou-me que viajar era sua paixão e que havia sido, quando jovem, trapezista de um circo que recorria a Europa. Atualmente, mora em Cape Town, nos poucos momentos que tem de folga, pois é guia de turismo da companhia Nomad. Usava uma T-shirt que dizia: “É melhor viajar uma milha do que ler um milhão de livros”. Acho que se aprende muito viajando e que é uma experiência incomparável, mas a leitura é insubstituível.

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Posto de fronteira da Trans Kalahari - Namibia para Botswana
Posto de fronteira da Trans Kalahari - Namibia para Botswana

Comemos nossa lasanha, que estava ótima, e nos recolhemos, pois partiríamos às 5 horas em direção a Maun, via Ganzi, enclave importante para quem viaja pelo Deserto de Kalahari. Enfrentamos o deserto em uma Zafira Opel, e nosso chofer, chamado Stephanes, tinha o pé bem pesado. O trajeto desde Windhoek, Namíbia, até Maun, em Botswana, é de oitocentos quilômetros e nós queríamos aproveitar para conhecer no trajeto um assentamento de pigmeus – os Bushmen (san), um dos povos mais antigos da terra.

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Deserto do Kalahari - Família Bushmen recebendo material esportivo do Inter Social
Deserto do Kalahari - Família Bushmen recebendo material esportivo do Inter Social

Chegamos a Maun ainda a tempo de trocar dólares pela moeda do país: pula, que quer dizer chuva na linguagem Setswana, que é a língua oficial do país. Pedimos ao Stephanes que nos levasse até o Old Bridge Backpackers (mais um em nossa lista – para compensar o alto custo dos tours). Era uma indicação da Bíblia dos viajantes – Lonely Planet.

O Old Bridge foi uma grata surpresa. Muito bem decorado com motivos africanos e localizado justo na barranca do Tamalakani River. Estávamos apenas nós dois, alojados num quarto para oito pessoas. Dormimos ao som do correr das águas sobre a barranca e de dois enormes ventiladores de teto, em cima de nossas camas.

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A vista de nosso alojamento no Old Bridge Backpackers
A vista de nosso alojamento no Old Bridge Backpackers

Na hora do jantar conhecemos uma americana que trabalha como voluntária para proteção das cheetas na África. Natural de São Francisco e muito amável, me disse, quando perguntei sobre a segurança do passeio de Mokoro, entre os juncos do Delta, que faríamos no dia seguinte: "Nada é seguro aqui na áfrica. Mosquitos vetores da malária, infestados com Plasmódios Falciformes, escorpiões, cobras, crocodilos e hipopótamos."

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O mokorista colorado que nos guiou pelos canais do Delta
O mokorista colorado que nos guiou pelos canais do Delta

Hoje quando navegávamos em um estreito canal, entre juncos e minúsculas Vitórias Régias, com suas flores que lembram a margarida, veio-me a mente um documentário do Discovery Channel que mostrava a tragédia de um casal americano, em lua-de-mel no Delta. Eles navegavam em um canal, similar ao nosso, e, bruscamente a noiva foi atacada por um animal que até hoje não foi identificado, devido á velocidade do bote, desaparecendo para sempre entre os juncos.

Recorremos os pequenos canais, acampamos em uma enorme ilha, onde a primeira coisa que avistamos foram fezes de elefante.

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Vista aérea do Delta, com seus estreitos canais
Vista aérea do Delta, com seus estreitos canais

O Okawango é o maior delta interior do mundo. Formado pelo espraiamento de suas ramificações, como uma folha de palmeira, lembrando o Delta do Nilo. Esta marcante paisagem era uma de nossas metas em Botswana, pois buscávamos os Patrimônios Naturais da Humanidade.


Diário de Bordo – Parte II

Estivemos fora do ar por vários motivos: cruzamos novamente parte do Deserto de Kalhajari; estávamos alojados em campings longe do centro dos lugarejos e também por falta de sinal.

Antes de partir do Delta do Okawango realizei um de meus últimos desafios pelas bandas de Botswana: voar sobre o Delta,em um Cesna, para ter uma real visão da magnitude daquele ecossistema único no mundo (pelo seu tamanho e a quantidade e variedade de vida animal selvagem). Fui convidado por um jovem antropólogo canadense e também por um jovem casal de instrutores de mergulho em Zanzibar (ela inglesa e ele alemão). Um grupo bem eclético. É importante a união das pessoas por essas paragens, pois os tours sempre tem um preço fixo e é uma forma de baratear a viagem, dividindo por um maior número de pessoas.

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Minha última loucura - passeio em Cesna sobre o Delta com um antropólogo canadense e um casal de instrutores de mergulho em Zanzibar
Minha última loucura - passeio em Cesna sobre o Delta com um antropólogo canadense e um casal de instrutores de mergulho em Zanzibar

Decolamos às 17 horas e ainda tínhamos sol suficiente para realçar o azul dos pequenos canais e do verde dos juncos, das acácias e de alguns baobás. A visão de 360º me proporcionava a sensação exata da vastidão daquela exuberante geografia e de manadas de elefantes e búfalos.

Ao retornar ao nosso charmoso Old Bridge, enquanto o Benhur escrevia seu último conto do novo livro, fui até o bar e conheci o simpático espanhol Pedro, que viajava sozinho em seu carro alugado e sua barraca pelo interior da África.

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O primeiro encontro com nosso amigo espanhol Pedro
O primeiro encontro com nosso amigo espanhol Pedro

Pedro fazia-me lembrar a seu xará, Pedro Castagno, parceiro de tênis por vários anos na Europa, onde me recebia fidalgamente em sua residência, em Torreviejas, Alicante. Era muito divertido e usava os tradicionais termos tão comuns aos espanhóis: pues vamos hombre; es de la hóstia ( muito bom); esos son unos jilipoyas ( babacas) e siempre se armam follones ( rolos) com ellos.

Pedro, com seus 34 anos é um típico Don Juan e señorito contemporâneo. Trabalha na organização de eventos e seguidamente viaja ao vizinho Marrocos para comprar tapetes e outras peças para suas decorações. Conversando, soube que viajaria para Kasane no próximo dia e esse era também nosso destino. Perguntei-lhe se havia a possibilidade de viajarmos juntos. Propus que a gasolina seria por nossa conta e também seria meu convidado para o lanche. Disse que seu carro era pequeno, mas que se coubesse nossa bagagem seria um prazer.

Presenteei-o com meu livro, que sempre me ajuda a abrir portas (apesar de não ser um escritor) e que faz parte de minha bagagem de aventureiro e empreendedor. Tínhamos algo em comum: somos aventureiros.

Resumo da história: fomos de carona, um pouco apertados, mas nos divertimos muito e enfrentamos os seiscentos e cinqüenta quilômetros que separam Maun de Kasane, passando ao sul do trajeto novamente pela vastidão do Deserto de Kalajari ou Kaglagadi, em língua setswana. O kalajari é uma das regiões de natureza virgem mais extensa do mundo. Retas intermináveis, vegetação escassa, formada de pequenos arbustos espinhosos e esparsas acácias. De vez em quando, um gigante baobá decora a paisagem.

Enfrentamos o árido trajeto que nos lembrava o agreste nordestino (comentei ao Benhur que só nos faltava encontrar o Lampião) escutando Joaquim Sabina, Pavarotti e Frank Sinatra. O que para nós seria um dos últimos problemas estratégicos a resolver (esse tramo não tem serviço de transporte público regular e os existentes são muito precários e não confiáveis) transformou-se em momentos de convívio solidário. A aventura, a música e o desejo de fazer novas amizades colocaram-nos no mesmo caminho.

Chegamos a Kasane a tempo de buscar um bom lugar para descansar e colocar toda a harmonia de nosso esqueleto no devido lugar. Uma boa ducha quente seria reparadora.

Pedro armou sua barraca e Benhur e nós nos instalamos num modesto e exótico chalé de bambu com todo o conforto (split e banheiro de fibra com água abundante e bem quente).